Com público e orçamento menores, protesto contra a violência, show de abertura sem nomes de nível internacional e o cancelamento da participação do autor mais renomado, a XIII Festa Literária Internacional de Paraty teve uma edição discreta.
Foi evidente a redução do fluxo de visitantes durante a Flip. Nos 5 dias do evento houve vagas inéditas para estacionar; falta de filas de espera nos restaurantes e bares da cidade, com mesas disponíveis nos horários mais disputados; pavilhões e Tenda dos Autores sem as multidões acostumadas; transito fluido na ponte do Centro Histórico e outras postais que confirmaram uma convocatória menor.
Uma pesquisa realizada por este jornal nas pousadas da cidade durante a semana previa ao evento confirmou uma redução de entre 20 e 30% do volume de reservas para os dias da Flip em comparação a 2014.
Em 2015, a Flip teve um orçamento de R$ 7,4 milhões (o menor em uma década). 58% vieram da Lei Rouanet, 9% da Lei Estadual de Incentivo à Cultura, 4% da prefeitura de Paraty e outros 29% de recursos como venda de ingressos e doações.
“Para o tipo de projeto que a gente faz, a crise é constante” afirmou Mauro Munhoz, diretor-presidente da Associação Casa Azul, que organiza o evento.
Uma das coisas que mais chamou a atenção em 2015 foi a escalação para o show de abertura, que já teve estrelas como AdrianaCalcanhotto, Paulinho da Viola, Gal Costa e Gilberto Gil. O paratiense Luís Perequê, acompanhado da paulistana Dani Lasalvia e do grupo Os Caiçaras, foram os encarregados de abrir a Flip dessa vez. Os cachês menores e a economia com deslocamento e hospedagem ajudaram a fechar as contas.
“Tudo no Brasil está se reorganizando diante das dificuldades que enfrentamos como país” comentou Perequê.
Roberto Saviano, o autor internacional mais importante da programação desse ano, cancelou sua participação por questões de segurança. Falando em segurança, o evento teve um esquema de policiamento sem precedentes, com a cidade patrulhada por 120 policiais militares após um semestre marcado por crimes como o tiroteio que deixou um morto e nove feridos no carnaval, o atentado ao prefeito e homicídios em diversos bairros da cidade: entre janeiro a maio deste ano foram registrados sete homicídios dolosos, 31 roubos e 216 furtos na cidade.
Pela primeira vez, uma delegacia móvel foi instalada nas imediações da Tenda dos Autores. Cerca de 80 PMs foram destacados no Centro Histórico, onde se concentram os eventos da festa.
Protesto de moradores no Centro Histórico: “Policiamento só na Flip?”
Passeata chamou a atenção para a falta de segurança na cidade indo até a Tenda dos Autores para reclamar de assaltos, homicídios, estupros e citando o atentado ao prefeito e a troca de tiros durante o Carnaval. 25 pessoas gritaram e levaram cartazes.
“Paraty tem sofrido uma onda de violência, é a terceira cidade mais perigosa do estado. Durante a Flip, a cidade está, entre aspas, segura. Como nós vamos ficar depois do evento com toda essa onda de violência, em que nada é esclarecido para a população?”, afirmou a estudante Gabriela Martins, de 21 anos, moradora de Paraty que organizou o protesto pela Internet.