Festa Literária Internacional de Paraty aporta na Inglaterra em outubro

A FlipSide contará com shows de Zé Miguel Wisnik e Adriana Calcanhotto. Milton Hatoum, Bernardo Carvalho, Ana Maria Machado e Ferrez são alguns dos autores confirmados.

Aproveitando a atenção dirigida ao Brasil por conta dos grandes eventos a Flip parte para uma aventura internacional. Lança em outubro, no Reino Unido, o primeiro festival literário voltado para a cultura de um único país: o Brasil. Vai disputar espaço numa cena congestionada por centenas de festivais acontecendo ao mesmo tempo no verão e outono europeu, quando caem na estrada bandas de rock, orquestras sinfônicas, dançarinos, atores e poetas.

A versão internacional da Flip, batizada de FlipSide, vai acontecer em Sulfolk, um condado da Inglaterra cheio de tradições e plantado à beira-mar, bonito como Paraty. Sem cerimônia, entrará no território dominado há 26 anos pelo Hay Festival, o modelo no qual a editora Liz Calder se inspirou para criar no Brasil, há 11 anos, o primeiro encontro literário fora do eixo das grandes cidades.

— Nós consideramos a Flip como uma irmã do Hay Festival — diz Peter Florence, dono da marca já replicada em encontros literários em dez cidades pelo mundo, numa incrível história de sucesso.

— O Hay não é necessariamente o modelo, queremos uma segunda Flip todos os anos, mas não sei se o festival crescerá para outros lugares — rebate Liz Calder.

A Flip vai trocar o casario barroco de Paraty pelas salas de concerto de Snape Maltings, onde desde 1948 acontece o Festival de Aldeburgh, criado pelo compositor Benjamin Britten — cujo centenário é comemorado este ano — e frequentado anualmente pela elite da música erudita. Cerca de 20 mil pessoas disputam os ingressos desses concertos e é parte deste público que deve se interessar pelo festival brasileiro. A estimativa para a primeira edição é de cerca de quatro mil pessoas.

— Há muito a descobrir nesta região de grandes céus, estuários e campos — diz Liz Calder.

A atmosfera é muito diferente de Paraty. Ovelhas pastam pelos campos que circundam o famoso Concert Hall, onde José Miguel Wisnik, Paula Morelenbaum e Arthur Nestrovski interpretarão Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, os homenageados da primeira versão internacional do evento e mesma dupla escolhida na edição inaugural da Flip no Brasil. O formato é o de sempre, com adaptações para atrair os britânicos: caipirinhas e feijoadas entram no cardápio do restaurante da festa, carnaval é um dos temas dos encontros literários e um curioso ateliê para crianças, que ensinará como fazer um chapéu igual ao do cangaceiro Lampião, descrito como o Robin Hood verde e amarelo.

No mais, segue o modelo tradicional, comprimido em três dias do primeiro fim de semana de outubro: encontros com nomes consagrados da literatura britânica — Ian McEwan e Will Self estão confirmados — e da cena brasileira, alguns deles saídos diretamente da homenagem ao Brasil na Feira de Livros de Frankfurt, como Milton Hatoum, Ana Maria Machado e Patrícia Melo. Já Adriana Calcanhoto estreia no circuito com um show de encerramento.

— Não queremos imitar Hay e os grandes festivais. Nós temos 20 eventos e isso não nos permite crescer demais, fica mais sério e mais divertido. Não é um grande circo, é intenso, íntimo e engraçado — explica Liz.

Criatura criticando o criador? O Hay Festival na cidadezinha de Way on Way, onde tudo começou, já foi definido pelo presidente Bill Clinton como um “Woodstock das ideias”. Acontece há tanto tempo que Arthur Miller foi um dos convidados para a segunda edição, mas ficou desconfiadíssimo ao saber que iria parar numa cidade nas montanhas, com cabras pastando nas redondezas. “Mas lá tem sanduíche?, perguntou.

De um começo modesto, com mil visitantes e 25 autores em 1987, Hay teve um crescimento explosivo na charmosa cidade do País de Gales e já fincou suas tendas em três continentes. O lugarejo com 1300 habitantes e 39 livrarias conviveu este ano com cem mil turistas atraídos pelo festival, para participar em alguns dos 160 eventos agendados com 250 autores em dez dias.

Esta mesma fórmula foi levada para outras dez cidades, sempre com paisagens inspiradoras e estrelas do mundo dos livros, da televisão, da política , do cinema ou da música, escolhidas em comum acordo com editoras desejosas de promover seus autores.

Tem Hay Festival sob a sombra do vulcão em Xalapa, no México, à beira do rio em Budapeste; na bela Cartagena, na Colômbia; em Nairóbi, no Quênia; e em Kells, na Irlanda. “Dá para não fazer nada mais do que passar de um Hay Festival para outro”, comentou o jornalista Carl Bernstein, uma das estrelas da edição de maio desse ano, no País de Gales, de onde chegou depois de uma parada em Budapeste e a caminho do festival da Irlanda, a última das franquias.

No outono, no mesmo período do festival brasileiro, a estrela máxima da constelação Hay será o Prêmio Nobel Mario Vargas Llosa, que participará do festival em Segóvia, na Espanha, junto com o também premiado Antonio Munõz Molina. Em Xalapa, uma das atrações é o jornalista Jon Lee Anderson. Mas a novidade é a 11ª cidade a ser capturada pelo grupo Hay: Santiago do Chile. Com todos estes festivais, não dá mais para lembrar como era o mercado editorial antes dos escritores itinerantes pelos palcos do mundo.

Liz Calder, idealizadora da Festa Literária Internacional de Paraty, conta que o FlipSide Festival será realizado nos dias 4, 5 e 6 de outubro deste ano. “Não será tão bonito quanto em Paraty, mas o mar fica perto e tem um auditório para 900 pessoas. Vamos levar 12 artistas brasileiros, autores e músicos”, disse.

A FlipSide contará com um show de Zé Miguel Wisnik em homenagem a Vinicius de Moraes e Tom Jobim, e uma apresentação de Adriana Calcanhotto. Milton Hatoum, Bernardo Carvalho, Ana Maria Machado e Ferrez são alguns dos autores confirmados.

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