*Por Claudia Ferraz. A poucos dias da Flip, as tendas gigantescas já se incorporam à paisagem da cidade. Este ano, elas estão sendo montadas na rive gauche, margem esquerda, do Perequê-Açu. Conversei com alguns operários dessa obra e tive uma boa surpresa.
Começa no dia 6, próxima quarta-feira, a 9ª Festa Literária Internacional de Paraty. E a cena urbana, especialmente no Pontal, vem se modificando a cada dia, com a ativa movimentação dos operários às voltas com a montagem das enormes estruturas que vão abrigar as tendas, o ponto alto dos encontros do público com os escritores – as estrelas dessa festa de repercussão mundial.
Sugiro aos moradores que dêem um giro por ali, antes que a festa comece. Fiz isso ontem e não me arrependi. É um belo passeio, capaz de nos dar a dimensão do antes e do depois, quando a cidade fica lotada e o burburinho dos flipeiros altera a costumeira serenidade paratiense. Os dias estão lindos e já dá para se ter uma boa idéia do quanto será agradável ouvir as palestras ao som das ondas do mar. Que São Pedro ajude e afaste qualquer possibilidade de chuva!
Mas o que foi mais surpreendente nesse meu giro pelas tendas sendo montadas ali no Pontal é que me bateu uma curiosidade: esse vaivém de operários trabalhando duro e a toque de caixa para deixar prontos os espaços de discussão sobre leitura, literatura… hum… e eles, será que esses operários lêem? Conversei com pelo menos 8. E todos, sem exceção, me disseram que sim. “Eu leio e gosto de ler”, confessou Nedir Alves, de 32 anos, da equipe de funcionários de São Paulo que está montando os camarins da Flip.
José Carlos dos Santos, 34 anos, também tem o hábito, “mas costumo mesmo é ler jornal. Não dá tempo para pegar um livro e terminar. Estou sempre viajando pela empresa”, contou ele, que já veio por três vezes a Paraty como montador das tendas.
Francisco Rodrigues, 40 anos, revelou que está achando linda a paisagem: “É uma cidade muito bonita, calma, não sabia que era assim, vou ver pela televisão quando a Flip estiver acontecendo”. Ele também está na montagem dos mais de dez camarins da festa e fez questão de me contar: “Leio muito, jornais, revistas, livros, lá em casa todo mundo lê. Estou ensinando minha caçula de 5 anos a escrever e gosto de ler histórias para ela.” Também com 40 anos, Antonio Silva entrou na conversa: “Eu leio sim, mas só a Bíblia”.