Texto: Matheus Ruffino – CD “Maré Cheia” é refrescante como uma brisa no rosto ao fim da tarde. As cinco faixas autorais, muito bem alinhadas e ricas de sentido poético, contam histórias de pescador e nos levam a um mergulho de cabeça num mar de memória e afeto, como cantado no verso da terceira faixa, Lual: “Foi na areia do Pontal. Eu vi no seu olhar. A lua estava ali”. Com sonoridade envolvente e tropical, a banda se lança no mercado fonográfico com um trabalho maduro, inédito no cenário regional e muito bem executado.

Foto: Mariana Vergara
A maré de Karina Braz deságua no mar de Dorival Caymmi
O autor baiano fez dos mistérios do mar uma de suas principais fontes de inspiração. Conhecido por suas composições cadenciadas e voz grave, cantou com precisão a beleza das águas da Bahia, alertou para o perigos da imensidão e misturou a religiosidade com o samba de sua terra. Caymmi, em sua vasta discografia, trouxe para o grande público a intimidade do interior e evidenciou como ninguém, não só a beleza, mas o cotidiano das pessoas daquele lugar.
“O que é que a baiana tem? Tem graça como ninguém. Como ela requebra bem”. “O pescador deixa que seu filhinho tome jangada e faça o que quiser (…) seu filhinho brinca perto da Lagoa do Abaeté” e “A vizinha quando passa com seu vestido grená, todo mundo diz que é boa mas como a vizinha não há (…)”. Os trechos confirmam a exaltação desse lugar ímpar, vivido e observado pelo poeta soteropolitano e que, de um modo bastante próximo, se assemelha com a forma íntima que Karina Braz cria suas composições.
A faixa que abre o disco e nos convida a ouvir o restante é O Pescador. O efeito de água, abrindo e fechando a música, transmite sensação de liberdade, de relaxamento e nos leva de encontro com a natureza. Outro destaque, ainda mais agregador, é o uso da flauta de pã, instrumento musical de sopro. O músico peruano Fernando Vargas, com delicadeza, harmoniza e da um brilho extra para a faixa. Na composição, a história do pescador se mistura com a rainha do mar, Iemanjá, entidade religiosa também muito presente na obra de Dorival. Quem assume com intimidade e tranquilidade os vocais de Maré Cheia, faixa título, é Pablo Piedade, artista paratiense e compositor dos versos da música. O violino traz o requinte para a sonoridade praieira do álbum e com isso, eleva a qualidade do grupo, mostrando muita originalidade. O toque trincado do pandeiro é a memória trazida dos Cirandeiros, grupo musical caiçara de Paraty que, sem dúvida, influência o som interiorano da artista. Na mosca!
Pés No Chão “nos leva daqui para outro lugar”, parafraseando a própria canção. É envolvente, dançante e conta com a sonoridade das castanholas, dando um ar La Isla Bonita, da rainha do pop Madonna. Fechando com um belo solo de violino e de forma quase folclórica, Lua Serena nos conta o romance entre a lua e as sereias nos mares da fantasia.
O álbum merece destaque pela singularidade do estilo musical apresentado pelos músicos. A genialidade de unir o mar, a flauta peruana, o violino e as castanholas, numa cidade de interior é, sem dúvida, o ponto alto desse trabalho. A forma como esses elementos se casam, resultam num som nostálgico e de qualidade ímpar. E ainda falando no âmbito marítimo, o novo trabalho dessa turma é uma pororoca às avessas, mares de água salgada num balé harmônico e compassado.
Fica evidente que o mar do baiano escorre pela sua poesia até os dias de hoje e vem de encontro com a maré da caiçara que está só começando e que tem muito a oferecer ao cenário cultural da região. Seja na exaltação da vida simples do interior, seja na magia do mar com o pescador, seja no amor pela música. Portanto conclui-se que, a maré cheia de Karina Braz deságua no mar de Dorival Caymmi.
Karina Braz está nos palcos desde os 15 anos, onde começou sua vida pública musical, se apresentando com banda de colégio e em corais.
Se apresentou a primeira vez numa casa noturna em Angra dos Reis, litoral do Rio de Janeiro, onde nasceu.
Em 2017 tocou no Festival de Verão de Paraty e em 2018, já com o disco gravado, marcou presença na Off-Flip, evento literário internacional.
Faz shows em eventos culturais da região e como todo bom músico em ascensão, toca em bares e restaurantes.
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Ficha Técnica:
Vozes e violão – Karina Braz • Contra baixo e backing vocals – Pablo Piedade • Flauta e violinos – Fernando Vargas • Percussões – Jonathan Andreolli • Baterias – Érick Gomes • Teclados – Jorge Sérvulo • Figurino – Christian de Paula • Produção musical – Karina Braz • Gravação – Estúdio América Music • Mixagem e masterização – Jorge Sérvulo • Make e hair – Rodrigo Cardoso • Fotos – Mariana Vergara • Designer gráfico – Rodney Reis • Produção Executiva – Karina Braz e banda • Amiga da banda – Cimar Calixto
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