Maria Izabel produz a cachaça que leva seu nome, uma das melhores da região de Paraty. Sua produção é pequena -cerca de 7 mil litros por ano, e feita da mesma maneira que seus antepassados. “Sou a única aqui que ainda faz o fermento artesanal, como se fazia nos anos 1800”, diz.

Área de Envelhecimento
Ela diz que só usa a própria cana, ou a de pequenas propriedades próximas, que possibilitem cortar a cana e começar a moê-la no mesmo dia, para evitar a acidez. Os maiores consumidores da Cachaça Maria Izabel são comerciantes da própria cidade de Paraty. Além deles, alguns turistas visitam o alambique para degustações e sempre levam algumas garrafas.
Maria Izabel
Chove em Paraty. Mesmo assim, Maria Izabel Gibrail Costa, 61, prefere andar descalça. “Só uso sapato para viajar. Por isso, não viajo muito.” Maria Izabel é uma personagem conhecida na cidade. Nasceu em Paraty, assim como os pais e as seis filhas.
Cresceu numa fazenda, ouvindo histórias dos antepassados, que chegaram aqui no século 18 e ficaram famosos produzindo cachaça. “Ainda me emociono muito quando vejo os casarões de Paraty.”

Maria Izabel Gibrail Costa – Foto: Isadora Brant/Folhapress
Desde 1994, Maria Izabel produz a cachaça que leva seu nome, ela vive e trabalha no sítio Santo Antônio, uma linda propriedade à beira-mar, a 5 km da cidade. Lá fica a plantação de cana e o alambique. O alambique produz duas cachaças, a normal e a azulada, esta destilada com a folha da tangerina. A bebida fica guardada em tonéis de jequitibá, que não interferem no aroma, e em barris de carvalho, que deixam a cachaça amarelada e, segundo Maria Izabel, “marcam” o sabor.
Ela sabe que seu produto é o mais caro da região. “Nossa cachaça custa caro porque a produção é cara”, diz. “É muito mais dispendioso plantar cana do que comprá-la de Caçapava, por exemplo. E nossa plantação fica num morro, por isso não uso máquinas. A colheita é manual, feita com enxada.”
Boca a Boca
A empresária não pensa em crescer mais: “Aqui, trabalhamos só eu e três funcionários. Está bom assim”. A divulgação da cachaça é feita no boca a boca, assim como as visitas ao alambique. Não há nem sequer uma placa na estrada informando a localização do sítio. “Não quero ficar exposta. Afinal, eu moro aqui”, afirma.

Sítio Santo Antônio
Ela vive com a filha, Maia, 18, portadora da síndrome de Down. As duas vão à cidade quase todos os dias para sessões de fonoterapia. Será que alguma das filhas pretende continuar a tradição da cachaça Maria Izabel depois que a mãe se aposentar? “Não penso nisso. Se não quiserem, tudo bem.”
Matéria: André Barcinski