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Tão antiga, embora provocante e contemporânea; muitas vezes sagrada, tantas vezes profana; pacata e deserta ou agitada e barulhenta… Qual é a Paraty que se quer viver?. Depende da época do ano, da festa que ela sedia, do passeio sonhado, do desejo pela paisagem que mais atrai, seja mar, montanha, cachoeira ou a praça da Matriz, com vizinhança do primoroso casario branco, de portas e janelas coloridas, que se estende pelo traçado sinuoso das ruas de pedras do centro histórico – sete delas seguindo do nascente para o poente, e mais seis ruas, do norte para o sul.
Em todas escoa fácil a água da chuva e entram com naturalidade as marés mais altas – fruto de espertezas da engenharia daqueles tempos de sinhás e sinhôs que temiam doenças e piratas…
É verdade, a Paraty de mil faces ainda guarda segredos, mistérios e fantasmas das épocas do ouro e do café. Mas neste século 21, uma das riquezas que a prestigiam no mapa dos melhores destinos do turismo cultural do planeta é a literatura.
Há doze anos, quase sempre no mês de julho, o vaivém bucólico do rio Perequê-Açu e o verde-azul de mar e montanhas se urbanizam com os contornos futuristas das enormes tendas montadas para protagonizar a consagrada Festa Literária Internacional de Paraty. A cada Flip, a cidade de alma mutante se abre, generosa e poliglota, a leitores ávidos e escritores estrelados do mundo inteiro.

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“ …as cidades encolheram, são previsíveis, dão claustrofobia e até dariam tédio, se não fossem os livros infinitos que contêm”, leu Antonio Cícero em um dos poemas de seu A Cidade e os Livros, quando esteve na Flip 2012. Esta, de 2014, também promete aguçar os sentidos. Não faltarão jovens poetas nem autores de peso em leituras e conversas sobre o fazer literário. Entre as abordagens, adaptações para o cinema, discussões sobre Kafka e Baudelaire na era moderna, versos de Fernando Pessoa…
Paixão. Pois é isso que Paraty provoca. Até mesmo quem segue à risca a agitada agenda da Flip acaba se rendendo aos encantos das esquinas, à singeleza das igrejas, ao branco de arder os olhos da Capelinha, ao horizonte azul da Rua Fresca, à calma vista do cais.
Aos que já conhecem, fica o prazer de revisitar os lugares preferidos; os visitantes de primeira viagem, porém, correm o risco de cair de amores, a ponto de trocar horas “cabeça” da Flip por momentos de pura contemplação numa traineira, por algumas das 63 ilhas do entorno. Por que não? Afinal, navegar também é preciso… Mas não só.

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Rica em tradições e com um calendário cultural de primeira grandeza, a cidade tem mais a oferecer: ateliês de arte surpreendentes; restaurantes elegantes, muitos deles praticando a atualíssima gastronomia sustentável; bares e cachaçarias notáveis; cafés e sorveterias de dar água na boca; lojas irresistíveis em objetos para casa; artesanato chique, indígena e caiçara; moda praia e muito mais.
Há, claro, pousadas em mil estilos, todas com um jeito especial de receber e sem nenhum preconceito contra quem chega em temporada de livros, preferindo só flanar e curtir… Afinal, por que não, se tudo vale a pena, quando a alma não é pequena?.
*Claudia Ferraz é editora do Blog sobre arte, viagens, design, arquitetura e decoração Adoro Azuis.
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