A figura mais importante da festa era o Roberto Calasso, mas nem na promoção prévia dos convidados ou no noticiário do evento se deu o devido destaque à sua presença. Calasso foi o Oscar da Flip.

Roberto Calasso na Flip - Foto: divulgação
Há dias reclamei da pouca atenção dada ao futebol do Oscar, em contraste com a exaltação de outros jogadores da seleção. Os elogios a Neymar etc. não eram descabidos, mas a importância de Oscar não foi reconhecida como, na minha opinião, merecia.
Entre parênteses: no texto sobre o Oscar usei, como exemplo de jogador altruísta que joga mais para o time do que para a torcida, o Servílio, acrescentando que não me lembrava qual era seu time, na sua melhor fase. Servílio foi daquele Palmeiras chamado de “Academia” de tão bom que era, e formava com Tupanzinho uma dupla que rivalizava com a de Pelé e Coutinho no Santos. Fecha parênteses.
Coisa parecida com o reconhecimento insuficiente do Oscar aconteceu na Flip deste ano. Ele é um daqueles italianos da linha do Umberto Eco (mas bem melhor do que o protótipo), comentaristas culturais que combinam erudição cornucópica com pensamento original e proporcionam uma leitura fascinante para quem tiver paciência com alguns trechos obscuros, quando a erudição e a criatividade se tornam um pouco demais — pelo menos para este cérebro combalido. O romancista e ensaísta Italo Calvino e o crítico literário Franco Moretti são do mesmo time.
A obra de Calasso (para ficar só nos livros traduzidos para o português, todos, acho eu, pela Companhia das Letras) incluem “As núpcias de Camdus e Harmonia”, um estudo da mitologia grega; “Ka”, sobre a mitologia hindu; “K”, sobre o Kafka; “As ruínas de Kasch”, um longo ensaio sobre a Europa dos séculos dezoito e dezenove concentrado na figura do estadista francês Talleyrand, que conseguiu servir à revolução francesa, a Napoleão e à restauração dos Bourbons sem perder a cabeça ou o prestígio; “Os quarenta e nove degraus” e “Literatura e os deuses”. É de Calasso um texto chamado “A loucura que vem das ninfas” que inclui o melhor comentário sobre o “Lolita” do Nabokov já publicado.
Enfim, foi um dos melhores intelectuais que já pisou nas pedras de Paraty sem chamar muita atenção, embora, como Oscar, merecesse todas. A mesa dele foi mediada pelo excelente Manuel da Costa Pinto. Este sabia com quem estava falando.
Fonte: O Globo
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