Seis meses depois de seu lançamento pelo governo federal, o novo sistema oficial de classificação dos hotéis brasileiros por estrelas (SBClass) tem apenas 33 meios de hospedagem cadastrados em todo o país. O número é bem inferior ao esperado – o Ministério do Turismo queria ter chegado a pelo menos cem cadastros nesses meses iniciais – e aos mais de 6.200 estabelecimentos existentes no Brasil.

Placas que os hotéis certificados recebem do Ministério do Turismo (Foto: Divulgação/Ministério do Turismo)
Discutido desde 2008, o Sistema Brasileiro de Classificação de Meios de Hospedagem foi lançado oficialmente no dia 25 de setembro do ano passado. A adesão é voluntária: o estabelecimento interessado precisa preencher uma ficha pela internet, pagar uma taxa (que varia de R$ 838,64 a R$ 5.031,34) e marcar a visita de um avaliador do Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia), que avalia se o local tem os itens necessários para cada categoria.
Atrasos no processo de implantação e divulgação do sistema decorrentes da burocracia dentro do governo e a falta de interesse de alguns hotéis (principalmente os de rede) em receber esse tipo de classificação são apontados por entidades da hotelaria e pelo próprio ministério como possíveis responsáveis pela baixa adesão.
“Os números são tímidos se a gente comparar com o que o ministério espera”, afirma Ítalo Mendes, diretor do Departamento de Estruturação, Articulação e Ordenamento Turístico da pasta. Segundo ele, a meta interna é chegar até a Copa do Mundo com ao menos 500 hotéis classificados.
Para Mendes, parte do problema se deve ao atraso na comunicação com o público. “Planejamos uma campanha para divulgar o sistema via TV paga, em meios impressos, nos aeroportos. Queríamos que ela fosse veiculada no fim de 2012, mas só no mês passado ela foi ao ar, já que houve encerramento de contratos com agências e novas licitações”, afirmou.
O fato de a classificação ser opcional é outro fator que, segundo o ministério, dificulta atingir a meta inicial. “Muitos meios de hospedagem não querem usar a classificação por estrelas, o que é perfeitamente compreensível, porque as estrelas transmitem um posicionamento de mercado. Para alguns isso interessa, para outros, não”, afirma Mendes.
O estabelecimento que não quiser se cadastrar, no entanto, não pode usar o símbolo de estrelas, sob pena de receber sanções previstas na lei (notificação, multas de R$ 350 a R$ 1 milhão e até perda do registro). A proibição já vale, mas o governo vai passar a aplicá-la apenas a partir do segundo semestre.
O Ministério do Turismo começou neste mês a fazer uma pesquisa por telefone que vai ouvir representantes de 800 empresas de hospedagem do país. A ideia é entender as dificuldades que os empresários podem ter em relação ao cadastro.
Dos 33 estabelecimentos que aderiram ao sistema, a maioria se enquadra nas categorias quatro ou cinco estrelas – atingir os que se ajustam aos critérios de uma ou duas estrelas é uma dificuldade extra. Há também cerca de 80 que estão com o processo aberto, em diferentes fases. Segundo Mendes, o processo todo de cadastro costuma durar de dez a 30 dias.
Desconfiança
Na opinião de Enrico Fermi Torquato, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH), o SBClass ainda é desconhecido por muitos estabelecimentos. Ele afirma que a associação está ajudando o ministério a divulgar o novo programa, principalmente nas cidades que serão sede da Copa das Confederações neste ano. A adesão é voluntária, mas o estabelecimento que não quiser se cadastrar não pode mais usar o símbolo de estrelas.
Fermi Torquato também admite que a novidade despertou desconfiança de alguns empresários, principalmente em cidades com a rede hoteleira mais antiga, como Recife e Rio. O medo era de serem “rebaixados” em relação às estrelas que eles declaram há anos, aleatoriamente ou baseados nos sistemas antigos de classificação. “Houve algumas divergências no início, mas esses hotéis viram que o melhor é se adequar à nova realidade para conseguirem permanecer com as estrelas que tinham”, afirma.
Para ele, deve haver uma mudança cultural das empresas hoteleiras do país. “A grande maioria é hotel independente, que precisa das estrelas para concorrer com os hotéis de rede, que já têm classificação própria”, diz.
As redes internacionais de hotéis que atuam no país estão divididas em relação à nova classificação. Algumas acreditam que não vale a pena participar, já que têm padrões amplamente conhecidos pelo público. Outras decidiram se cadastrar. A falta de uma classificação clara gera muitas dúvidas nas pessoas que viajam”
Carpete no quarto
No passado, o Brasil teve modelos anteriores de classificação hoteleira, controlados pelo governo ou pela iniciativa privada. Desde a década de 1990, o modelo vigente ficou desatualizado e perdeu a credibilidade.
“Pela matriz anterior, hotel cinco-estrelas tinha que ter carpete no quarto. Isso faz sentido para um hotel do sul do país, mas não do Nordeste. A nova matriz dá relevância aos serviços, e não ao acabamento do hotel”, aponta Fermi Torquato, da ABIH.

Quarto do hotel Grand Hyatt São Paulo, que recebeu a classificação de cinco-estrelas (Foto: Divulgação/Grand Hyatt)
O SBClass começou a ser discutido em 2008 entre governo, especialistas e representantes da indústria, com base em modelos de 24 países e na realidade da hotelaria nacional. Pelo novo sistema, os requisitos obrigatórios variam não só de acordo com a quantidade de estrelas que se quer receber, mas também com o tipo de meio de hospedagem. Há critérios (e preços) diferentes para as categorias hotel, resort, flat, cama e café, pousada, hotel fazenda e hotel histórico.
Os hotéis cadastrados recebem uma placa oficial com o número de estrelas. O registro tem duração de três anos. Neste mês, foi instalado também um comitê técnico responsável por tomar decisões em casos excepcionais e por decidir sobre mudanças no sistema. O comitê tem representantes do governo e do setor privado.
As informações completas estão no site do SBClass: http://www.classificacao.turismo.gov.br/MTUR-classificacao/mtur-site/
Matéria: Flávia Mantovani – Do G1, em São Paulo