O escritor angolano Valter Hugo Mãe parabeniza o evento pelos seus 10 anos e escreve sobre sua participação na edição 2011 da Festa Literária Internacional de Paraty, onde foi destaque.
“Lembro-me de muito do que me disseram pelas ruas de Paraty. Foi tão engraçado passear por entre as pessoas e ouvir o cumprimento abundante de tanta gente. E fazer fotografias. Sorrir. Porque verdadeiramente me apetecia sorrir muito e cumprimentar as pessoas também. Algum dia um escritor será suficientemente bom para explicar aos leitores o quanto eles são incríveis e nos podem salvar. Desde logo, podem salvar-nos de nós mesmos. Porque pensamos muito que talvez nada valha a pena, pensamos muito que os textos são fracos na expressão do que realmente imaginamos e sentimos. Os textos tendem a ser tão insuficientes em tantas coisas da vida.”

“É muito importante para mim deixar que o público brasileiro me conheça pelos livros. Fui recusando inúmeros convites para voltar, porque é importante que quem acreditou na minha pessoa decida agora se acredita no que escrevo e se quer ainda que eu volte. Se isso vale a pena para os leitores porque para mim, enquanto pessoa e depois autor, vai valer sempre a pena. Os livros são o modo como faço a vida. Quero dizer, os livros são o fundamental da minha vida. Tento que sejam eles a merecer a atenção e, para um público leitor, é a partir deles que se deve desenhar o meu rosto. Vou voltar, claro. Tenho muita sorte.”
“Volto quando editam O Filho de Mil Homens, esse romance onde um tal Crisóstomo, ao chegar aos quarenta anos, como eu cheguei, assumiu a tristeza de não ter um filho. Ainda estou convencido de que o livro me serve para suprimir essa falta no plano mais absurdo da vida. Mas também estou convencido de que a vida não é só absurdo e ainda me vai pedir muitas coisas difíceis, muitas coisas que, até de surpresa, me vão mostrar afinal quem sou. Porque o que somos se revela lentamente com o tempo. Até certo ponto, de todas as vezes em que estive no Brasil aprendi algo sobre mim e gostei do que aprendi. Deve ser por essa razão que sempre quero voltar.”
“Ainda vivo cheio de saudades da Ilha da Conceição. Lembro-me de como as barcas iam e vinham entre o Rio e Niterói. Lembro-me da dona Hermínia e do senhor João. Da Glória e da Arminda. Dos meninos Daniel e Gabriel. Até me lembro do namorado da Glória, que já não é mais. Fico com pena. Gostava que estivesse tudo igual, feliz, à minha espera.Paraty, por seu lado, vai ser esse lugar assim. Eu sei que terá sempre aFLIP, que para mim pode significar a Felicidade Literária Impressionante de Paraty. Isso deixa-me muito satisfeito. Parabéns à FLIP pelos seus dez anos, e muito obrigado por tudo.”