*Por Claudia Ferraz. A exposição de arte postal, com mais de 30 artistas de várias partes do mundo, chega com o tema Cinema e Diversidade. O evento foi lançado com a exibição do premiado documentário Dzi Croquetes. Tudo na Casa da Cultura, com entrada franca e direito à boa conversa, sob iniciativa do Cineclube Paraty.
Cinema e arte? Tudo a ver. E para expressar a questão da diversidade sexual, essas linguagens têm muito pra falar. Este evento é um exemplo mais que perfeito. Fruto da trajetória bem-sucedida dos quatro anos do Cineclube Paraty, a exibição do filme documentário Dzi Croquetes (Direção de Raphael Alvarez e Tatiana Issa. Brasil, 2009, 1h 50 min, 16 anos) vem coroar as mais de 100 exibições de cinema realizadas ao longo do ano.
Veja algumas das obras expostas:
Quase um presente de Natal para o público paratiense que, cada vez mais, frequenta o auditório da Casa da Cultura às terças-feiras, sempre às 20 horas. Afirmo isso porque já vi Dzi Croquetes e considero o documentário obrigatório, não só para relembrar a rica produção musical e teatral do grupo nos anos 60 e 70, e suas consequências na vida cultural brasileira da época, mas também para refletir a respeito de quem somos hoje.
Afinal, revisitar um passado recente e de tamanha importância musical e cênica é fundamental para a gente se entender como agente e consumidor da cultura contemporânea. E o filme de Raphael Alvarez e Tatiana Issa faz isso com muita beleza, respeito e talento, homenageando os inesquecíveis Dzi.
André Góes, diretor geral do Cineclube, esclarece e registra: “o nosso público, composto principalmente por moradores de Paraty, acompanhou duas mostras permanentes exibidas durante todo este ano. Uma, a mostra Arco-Íris, de filmes temáticos sobre a diversidade sexual, e outra, Belas Artes, sobre vida e obra de artistas plásticos relevantes. E agora terminamos 2011 propondo Cinema e Diversidade, um tema que reflete fielmente as exibições do Cineclube ao longo deste ano”.
Arte postal: livre expressão
Para abrir a sessão especial de hoje, às 20 horas, o evento, inédito na cidade, foi além: programou a inauguração, às 19 horas, da primeira Exposição Internacional de Arte Postal – Cinema e Diversidade, que ficará em cartaz durante uma semana na Casa da Cultura.
Com curadoria do artista plástico Lauro Monteiro, esta mostra promete mexer com corações e mentes. O próprio Lauro foi quem “puxou o fio da meada”, instigando pela internet, via redes sociais, a participação aberta sobre o tema. Todo o processo culminou nesta exposição, que agrega mais de 50 artistas, com cerca de uma centena de postais criados para esta atividade e enviados pelos correios.
Lauro Monteiro fala um pouco dessa “aventura” para reavivar a força da arte postal: “Foi lançada no mês de maio passado – durante as festividades de quatro anos do Cineclube – a Convocatória de Arte Postal 2011. Para este chamamento público, usei principalmente as redes sociais da internet, dentro de seus inúmeros grupos de artistas do mundo todo, além de outros veículos, como jornais.”
Revolucionária em sua essência, a arte postal (mail art), nascida na década de 1960, é precursora da interação. Trabalha com conceitos de difusão, criação compartilhada, interatividade, intercâmbio e produção em processo, tudo originado de correspondências trocadas entre artistas plásticos.
A história começou quando, em 1963, Ray Johnson escreveu uma carta num envelope, usando frente e verso. Ele rompia, assim, com o conceito de privado, para reproduzir, de maneira pública, seu diálogo com outra pessoa. Resumindo: a mail art consistia em trocar mensagens criativas utilizando o sistema de correios.
Surgiu como uma alternativa aos meios convencionais das exposições de arte (Bienais, Salões, etc.) e tem características próprias do período em que apareceu (dialoga, portanto, com a Guerra Fria, no contexto mundial, ou com a ditadura militar, no contexto brasileiro). Ou seja, seu objetivo era veicular informação, protesto e denúncia.
Nos anos 1960, a mail art foi uma forma de expressão entre artistas que se conheciam. Porém, na década de 70, todos os interessados em fazer arte já podiam participar – e, a partir de 1980, museus e universidades começaram a valorizar a arte postal. No Brasil, ela chegou num momento de censura, quando muitos artistas, para poderem se expressar, acabaram aderindo à Arte Conceitual – e, portanto, a uma de suas formas, a Arte Postal.
Um dos brasileiros relevantes envolvidos no processo é o pernambucano Paulo Bruscky, que organizou, em 1975, no Recife, juntamente com Daniel Santiago e Ypiranga Filho, a 1ª Exposição Internacional de Arte Postal, fechada pela censura do regime militar.
Nos anos 1990, a arte postal iniciou seu diálogo com as novas mídias. E foi na internet que os artistas encontraram um meio privilegiado para novas experimentações, inaugurando novas poéticas, novos canais de participação, de mobilização e de divulgação da arte postal.
Agora, toda essa história pode ser vista e sentida ao vivo na exposição que permanece até o dia 13 de dezembro no pátio da Casa da Cultura. Vale visitar sem pressa.
*Claudia Ferraz é a jornalista responsável do ParatyOnLine e editora do blog sobre arte, viagens, design, arquitetura e decoração Adoro Azuis