Ambas são experiências de sucesso, atraem multidões, tratam de livros e ideias e reúnem editores, autores e leitores. Mas são distintos os caminhos percorridos pela Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro e pela Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) para alcançar sua meta primordial, a de aproximar a literatura do público.
Em fase de preparação, os dois principais eventos literários do país planejam uma série novidades para o ano. A Bienal (de 1 a 11 de setembro) vai fugir da rotina de homenagear um país por edição e já confirma Anne Rice, Alysson Noël e Michael Connelly como alguns dos autores de sua 15 edição. Já a 9 Flip vai expandir as ações para o público adolescente e dará ênfase maior à ficção, com James Ellroy e João Ubaldo Ribeiro como grandes atrações na festa marcada para 6 a 10 de julho.
Confira a matéria no Segundo Caderno do Jornal O Globo (clique na imagem para ampliar):

As diferenças entre Flip e Bienal fazem delas eventos complementares. Numa breve descrição, a Flip pode ser encarada como uma festa charmosa que atrai turistas de todos os cantos para uma cidade histórica, e cujo foco é o escritor. Nela, os olhares se voltam para as cinco mesas de debates diários com cerca de 30 autores, alguns grandes nomes da literatura, enquanto atividades paralelas são realizadas, sobretudo com a participação dos moradores de Paraty.
Já a Bienal do Rio é mais grandiosa e, de certa forma, acessível. Três pavilhões do Riocentro recebem centenas de milhares de visitantes a cada ano ímpar – na última, em 2009, foram 640 mil – para percorrer 950 estandes, comprar livros e participar de debates e palestras com alguns de seus 120 a 130 autores, muitos deles best-sellers.
– Tivemos 20 mil pessoas na última edição, mas nossa meta não é crescer mais. É nos enraizar. Queremos aumentar a ligação com Paraty – diz Mauro Munhoz, diretor-presidente da Casa Azul, instituição que organiza a Flip. – Este ano, a Flipzona, braço da festa para os adolescentes, vai ganhar a periferia de Paraty, e estamos preparando um plano de revitalização da Praça da Matriz.
– A Bienal é o terceiro maior evento do Rio, atrás apenas de carnaval e réveillon – diz Sonia Jardim, vice-presidente de operações do Grupo Editorial Record e presidente do Sindicato Nacional dos Editores de Livro (Snel), instituição que organiza a Bienal em parceria com a empresa Fagga. – Ela tem um papel de formação de leitores. Precisamos mostrar que o livro é um item que deve ser incorporado no hábito das pessoas.
A Bienal 2011 vai manter os espaços da última edição, como o Café Literário (debates abertos ao público), o Mulher e Ponto (discussões sobre temas femininos) e o Livro em Cena (leituras de clássicos por atores de renome). A tradicional homenagem à literatura de um país, porém, deve dar lugar a outro tipo de recorte, que está sendo finalizado pelos organizadores. E as atividades infantojuvenis, grande destaque da última Bienal com o sucesso da Floresta de Livros – área lúdica e interativa em forma de floresta -, serão incrementadas.
– A gente vai mergulhar no horizonte da narrativa e em sua ligação com a cultura da interatividade. Algumas coisas ainda estão sendo aprovadas, mas posso dizer que, com os tablets, telas touchscreen e afins, estamos voltando para a época das cavernas, em que as sensações se misturavam – diz João Alegria, curador do espaço infantojuvenil da Bienal desde 2009.
A Flip, por sua vez, entrou 2011 com um novo curador, o jornalista Manuel da Costa Pinto. Responsável pela programação das mesas, o perfil que Costa Pinto vem dando à festa é o da literatura de ficção, após um 2010 em que as mesas com tom mais acadêmico prevaleceram. Doze autores já foram anunciados, entre eles aqueles que devem ser as duas principais atrações: o autor de policiais americano James Ellroy e o romancista brasileiro João Ubaldo Ribeiro.
– A Flip representa um momento de suspensão no tempo. Você deixa seu espaço habitual, suspende suas atividades e vai para um lugar apenas em função da literatura. Você transforma a leitura, que normalmente é solitária, em experiência coletiva – diz Costa Pinto. – Teremos uma força maior na ficção, sim, mas isso não quer dizer que não haverá bons autores em outras áreas. Joe Sacco e Claude Lanzmann, por exemplo, são bastante importantes em suas áreas.
A escolha dos autores serve bem para marcar as diferenças. A Flip tem um público mais segmentado nas mesas – não é qualquer um que consegue pagar por uma pousada em Paraty, caríssima durante o evento, e comprar os disputadíssimos e limitados ingressos dos debates -, e, com algumas exceções, seus convidados têm muito mais prestígio do que ótimos resultados de vendas nas livrarias.
A Bienal, por outro lado, é uma feira de venda de livros, o que faz com que autores de >ita<best-sellers, vários também respeitados pela crítica, sejam bem-vindos. Anne Rice, ex-rainha dos vampiros e agora entusiasta dos anjos, por exemplo, certamente vai reunir filas de fãs atrás de um autógrafo na Bienal. Mas dificilmente teria lugar na programação da Flip.
– A Bienal é um produto família. Pessoas que vão muito pouco a livrarias acabam se reunindo em torno do livro. Para os editores, é o espaço para se ter contato direto com os leitores – diz Leila Name, diretora editorial do Grupo Ediouro.
– Já a Flip se relaciona com um público formador de opinião. É um local de contato, de circulação de ideias.
– A pessoa que vai à Bienal quer passar o dia, compra livros. E lá, além dos best-sellers, também há nomes incríveis, como os de David Grossman e Dash Shaw na última edição.
– Na Flip, a interação da editora com o leitor é menor, mas tentamos fazer um trabalho específico, como disponibilizar trechos dos livros para o público de cada mesa – conta Joana Fernandes, supervisora de marketing da Companhia das Letras.
– Mas o importante é que ambas são lotadas. Elas se complementam e há espaço para as duas propostas.
Fonte: Jornal O Globo